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O centro pastoral da catedral de Cristo Rei em Loikaw, Mianmar, foi bombardeado no domingo (26) e ocupado pelo exército no dia seguinte, segundo a agência Fides, serviço noticioso das Pontifícias Obras Missionárias.
Embora ninguém tenha morrido durante o bombardeio, o telhado do centro pastoral desabou e o bispo de Loikaw, dom Celso Ba Shwe, e os 80 refugiados que se abrigavam na igreja fugiram, informou a UCA News.
O bispo disse num comunicado divulgado na terça-feira (28) que “o exército birmanês tentou tomar três vezes o complexo da Catedral de Cristo Rei” antes de finalmente ocupá-lo na segunda-feira (27).
“Como bispo local, juntamente com os sacerdotes, tentei convencer os generais militares da importância dos locais religiosos e pedi-lhes que abandonassem o local, onde também estão acolhidos os deslocados”, disse dom Ba Shwe.
O complexo da catedral abrigava cerca de 82 refugiados de todo o Estado de Kayah, uma região que se tornou um importante campo de batalha entre a junta militar birmanesa e várias milícias rebeldes.
Segundo LiCAS News, uma fonte de notícias católica asiática, o bispo também relatou que “50 soldados vieram e ocuparam [a catedral] para usá-la como escudo”.
Segundo Fides, entre os refugiados que tiveram que fugir estão muitos idosos, deficientes, doentes, mulheres e crianças, além de dez padres e 16 religiosos. Agora, essas pessoas e o bispo tiveram que procurar refúgio em outras igrejas ou no deserto.
Mianmar, que faz fronteira com a Índia a oeste e com a China a leste, é um país de maioria budista, com minorias católicas e protestantes em alguns estados. O país está em guerra civil desde 2021, depois que as milícias locais se uniram para fazer oposição à junta militar que tinha assumido o controle do governo no início desse ano.
Não é a primeira vez que igrejas católicas e locais sagrados são atingidas pelo fogo cruzado da guerra em curso. Os lugares católicos no estado de Kayah e na diocese de Loikaw foram especialmente afetados pelos ataques militares.
No dia 12 de agosto, a Igreja Maria Mãe da Misericórdia, na aldeia de Htee Thaw Ku, na diocese de Loikaw, foi atingida por ataques aéreos que destruíram o telhado e as janelas, segundo a UCA News.
Em março de 2022, a CNA, agência da EWTN News, informou que outros ataques aéreos atingiram a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, na aldeia de Saun Du La, e o convento das Irmãs da Reparação, um lar para freiras aposentadas, no estado de Kayah.
No total, 21 das 41 paróquias da diocese foram afetadas. Loikaw tem cerca de 93 mil fiéis.
Dom Bo Shwe, segundo Fides, disse que “devido à intensificação do conflito armado em novembro, mais de 80% da população urbana e rural do estado de Kayah foi deslocada e o número de pessoas deslocadas internamente continua aumentando”.
A catedral se tornou um local de refúgio, mas, “infelizmente, lá também não estávamos seguros”, acrescentou ele.
Um relatório publicado em março pelo Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) informou que o conflito resultou numa “crise humanitária e de direitos humanos” na qual mais de 1,3 milhões de pessoas foram deslocadas e mais de 3 mil civis foram mortos.
O relatório também informou que, à medida que o conflito avançava, nos últimos meses a junta militar de Mianmar “intensificou os ataques aéreos, bombardeando aldeias, escolas, instalações médicas e campos para pessoas deslocadas internamente”.
No dia 19 de novembro, depois de rezar o Ângelus, o papa Francisco reiterou o seu apelo à paz em Mianmar, “que infelizmente continua a sofrer violências e abusos”. “Rezo para que não desanimem e confiem sempre na ajuda do Senhor”, acrescentou.
“A paz é possível. Não nos resignemos à guerra! E não esqueçamos que a guerra é sempre, sempre, sempre uma derrota”, disse.
Fonte: ACIDIGITAL